Crianças em viagem
Não é a primeira vez que me perguntam se é ou não razoável levar uma criança para uma expedição. Mesmo não sendo eu um especialista nesta matéria, penso que se justifica escrever um texto de opinião sobre este tema.
Acredito que este assunto tem bastante mais a ver com os eventuais preconceitos dos adultos do que com as crianças propriamente ditas.
Vários são os aspectos a observar, nomeadamente:
- O(s) país(es) de destino
- Alimentação
- A duração da viagem
- O formato da viagem
- O perfil do grupo
- A idade da criança
Destino
Vamos usar Marrocos como exemplo, uma vez que está no continente africano e é talvez o país mais frequentado por portugueses quando saem da Europa, sobretudo quando o formato é o de expedição ou mesmo de viagem num sentido mais "ligeiro".
Uma criança, pelo menos se for de tenra idade, precisa ser um pouco mais protegida do que um adulto. Mas isso não deve ser inibidor de se fazer acompanhar pelos seus filhos quando sai do país.
Alimentação
Viajar para Marrocos não é muito diferente de viajar para qualquer destino na Europa. Em qualquer circunstancia é necessário ter algum cuidado com a comida. Se a criança tem cerca de 3-6 anos, é preferível ir em autonomia total, pelo menos para ela. Ou seja, água e comida para todos os dias da viagem. Dá mais trabalho porque até a confecção deverá ser feita pelos pais, mas é a garantia de que haverá uma probabilidade muito baixa de ter um problema intestinal ou qualquer outro dos que por vezes afectam os adultos. Tirando isso, comer terra lá é como comer terra cá
Duração
Por regra, dois minutos depois de saírem de casa já estão a perguntar se "ainda falta muito". É por isso recomendável antecipar a viagem com muitas horas de brincadeira para que depois tenham de enfrentar longas horas de sono para recuperar. Assim, quando acordam, já estão junto à fronteira. A viagem não deve ultrapassar uma semana de duração. Caso contrário as saudades dos amiguitos e do seu ambiente controlado, faz com que a viagem se torne um pesadelo.
Formato
Se o formato é o de expedição em todo-o-terreno durante todos os dias de viagem, excepto nos das deslocações, esperam-nos os "efeitos secundários" causados pela seca para a criança, seca para os pais e seca para os acompanhantes.
O formato deve ser mais ligeiro, com um misto de todo-o-terreno em percursos curtos, intercalado com paragens em povoações para interacção com os locais.
É importante concretizar actividades em que as crianças se sintam envolvidas e participantes.
Grupo
Um grupo pequeno é o ideal. Sobretudo todos devem estar em sintonia em relação às condicionantes de uma expedição com crianças. Deve por isso tratar-se de um grupo especial. Fazer paragens frequentes e tratar (pelo menos aparentemente) uma criança da mesma forma que se trata um adulto, não é para todos. Eu tive a sorte de fazer uma expedição destas a Marrocos, com o meu filho e com um grupo com este perfil e ele divertiu-se muitíssimo. Fala frequentemente em voltar.
Foi tratado como mais um elemento do grupo e por isso sentiu-se importante. Partilhou futeboladas com putos de lá e gostou. Deu brinquedos aos miúdos berberes e aprendeu. Sentiu a imponência da montanha e entendeu que há vida para lá da PlayStation
O percurso e a duração da viagem também são importantes. Nove dias com um misto de estrada/povoações e pista e eles aguentam perfeitamente. O ideal é se for pelo menos mais uma criança.
Com algumas condições "especiais", advogo que se deve oferecer essa experiência de vida à criança, assim que possível.